Vidigal: favela comprada por ricos e estrangeiros?
Sonia Rabello - 27/06/2014
Este poderia ter sido também o título do programa de Fernando Gabeira, esta semana, na Globo News. Vale a pena conferir. E, em função do que ali é mostrado, reflito sobre a dicotomia do que foi pensado pelos movimentos acadêmicos e sociais sobre “regularização fundiária” das favelas, e o que, de fato, está acontecendo.

E o que o programa mostra é que quanto mais se traz segurança pública e garantia de permanência, mais o capital avança para comprar o que antes, por esses mesmos motivos, estava fora do “comércio”, fora das possibilidades de investimento do capital por conta dos riscos envolvidos.
O aburguesamento - Depoimentos no programa afirmam: a população do morro está mudando, e saindo de lá rapidamente para dar lugar aos investidores e empresários jovens da classe média brasileira e estrangeiros ! Estes são os novos ocupantes de primeira geração.
Os outros, mais sofisticados, virão a seguir. Quanto mais o Estado for investindo nos serviços públicos e “regularizando”, mais a área será valorizada. E, com isto, uma veloz substituição da população?
“A tendência é isso aqui ficar mais um bairro de classe média”, cita a matéria, acrescentando que esse processo de gentrificação, com a chegada dos ricos, conduzirá ao “aburguesamento” da região.
E tudo isso era previsível…

Nada nas favelas é regular, nem as edificações, nem o parcelamento, nem a infraestrutura. E nada é regularizável, salvo por leis de exceção, que se justificam pelo fato de serem “áreas de interesse social”. Ou seja, lugar de menos favorecidos! E essa irregularidade se estende pela falta de serviços básicos: ruas, iluminação pública, calçadas, praças, saneamento básico com água e esgoto, escolas, postos de saúde, entre tantos outros. Colocar tudo isso em uma favela é caríssimo ou até impossível sem uma enorme transformação do sítio.
Mas, se a área de “interesse social” é regularizada, para garantir a moradia de quem precisa, a regularização faz com que a área perca justamente a característica que obstaculizava sua entrada no mercado fundiário geral. Por consequência quase que inevitável, o mercado a absorverá em brevissimo tempo, como mostra o programa. E aí já não mais será uma área de “interesse social”: um paradoxo!
Cabe então a pergunta: a regularização se justifica, ainda assim, com normas de exceção ?
O fato é que, como é afirmado na matéria não só pelos novos investidores da classe média, mas também pelo líder comunitário do lugar, o bem (a regularização) que é trazido para a comunidade é o próprio gérmen que irá devorá-la.
Portanto, a solução da regularização não pode ser pensada pela mesma lógica jurídica que é a dominante da acumulação fundiária. Se assim for, os inocentes serão vencidos pelo capital. Alguém duvida ?
Sugiro a leitura de dois textos meus sobre o assunto, e cujos links podem se acessados neste site.
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