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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Sudeste deixa de responder por mais da metade do consumo brasileiro

Sudeste deixa de responder por mais da metade do consumo brasileiro




Pesquisa mostra que, pela primeira vez, a participação do Sudeste no mercado nacional ficará abaixo de 50%, enquanto o Nordeste avançará para uma fatia recorde de 19,48% e o Norte para 6,04%, impulsionados pelo aumento da renda




27 de abril de 2014
Luiz Guilherme Gerbelli - O Estado de S. Paulo

A geografia do consumo brasileiro vai mudar neste ano. Pela primeira vez, a fatia da Região Sudeste no potencial de consumo do País ficará abaixo de 50%. Um estudo feito pela consultoria IPC Marketing mostra que São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo responderão por 49,21% de tudo o que será consumido no País este ano.
A perda de participação do Sudeste tem sido lenta, mas contínua ao longo dos anos. Em 2013, o peso da região foi de 50,53%. Há dez anos, ela representava 55,79%. A estimativa da IPC Marketing é de que o consumo atinja R$ 3,262 trilhões neste ano, acima do verificado em 2012 (R$ 3,011 trilhões).
A menor participação do Sudeste pode ser explicada pela melhora econômica das demais regiões brasileiras. A fatia do Nordeste no consumo será recorde em 2014 e vai chegar a 19,48%. Haverá ainda um forte crescimento do Norte, cuja participação também será a maior da história (6,04%).
"Em 2008, o Nordeste atingiu o segundo lugar no ranking do potencial de consumo e a diferença para a Região Sul vem aumentando nos últimos anos", afirma Marcos Pazzini, diretor da IPC Marketing.
As economias do Norte e principalmente as do Nordeste foram impulsionadas nos dois últimos anos por dois grandes fatores: programas de transferência de renda e política de reajuste real do salário mínimo.
No caso da economia nordestina, quase 20% da origem da renda familiar vem do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) - boa parte do pagamento é atrelada ao salário mínimo. O Bolsa Família representa 3%. O restante é dividido entre trabalho (71,9%) e outras fontes (5,4%), como aluguel.
"Há dez anos, não existia uma classe média, principalmente no Nordeste. Quando o governo fez chegar dinheiro no bolso da população de mais baixa renda, ele fez com que essa parte da população tivesse uma condição melhor de vida e obviamente de consumo", afirma Pazzini.
Ciclo virtuoso. As duas economias passaram, então, a viver o chamado ciclo virtuoso. O aumento do consumo atraiu a chegada de novas empresas, que foram responsáveis por ampliar o mercado de trabalho e renda, estimulando novamente o consumo.
Os indicadores macroeconômicos de cada região podem explicar parte da mudança na geografia do consumo nacional. As economias do Norte e do Nordeste vão crescer acima da média nacional em 2014. A projeção do cenário regional feita pela Tendências Consultoria mostra que o Produto Interno Bruto (PIB) do Norte deve ter o maior avanço do País este ano, com alta de 2,9%, e o do Nordeste terá o segundo maior, com crescimento de 2,7%. Para efeito de comparação, o desempenho esperado para o PIB brasileiro será de 1,9%.
"Uma atividade econômica mais forte impacta na renda da população. Com o PIB crescendo mais no Nordeste e Norte, a massa de renda também vai ser influenciada positivamente, o que estimula o emprego formal e traz todos os efeitos multiplicadores na economia", afirma Camila Saito, economista da Tendências e responsável pelo cenários regionais.
O crescimento econômico das Regiões Norte e Nordeste deve permanecer acima da média nacional nos próximos anos.
De acordo com a projeção da consultoria Tendências, de 2015 a 2018, a média de crescimento do PIB da Região Norte deve ser de 3,8%. A economia nordestina deve avançar 3,5%. No período, o crescimento brasileiro será de 2,9%.
"Uma coisa interessante de se observar no Nordeste é que vai haver uma mudança no padrão do consumo. Daqui para a frente, não deve haver mais esse impacto do Bolsa Família na economia local, porque o programa já está praticamente universalizado. O impacto da renda desse programa na região vai diminuir, e o motor para o crescimento da massa no Nordeste nos próximos anos vai vir do trabalho", afirma Saito.

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