Como o aquecimento provoca tempestades
Matthew Shirts - 19/12/2013
Este texto faz parte da Revista do Clima, volume 2, publicada pelo Planeta Sustentável em dezembro de 2013

A diminuição de gelo no polo Norte responde por novos padrões de furacões, chuvas e secas no hemisfério Norte
Quem segue o debate sobre o aquecimento global sabe
que os cientistas evitam ligar eventos climáticos específicos ao
aumento da temperatura no planeta. Fazem ressalvas e cultivam
analogias sempre que são chamados para explicar furacões, tempestades,
chuvas, secas ou incêndios. “O aquecimento injeta esteroides no
clima”, é uma das frases ouvidas com frequência, “aumentando a
probabilidade de eventos extremos”. Mesmo assim, muito dificilmente os
cientistas atribuem uma tempestade qualquer às mudanças provocadas pela emissão de gases de efeito estufa por parte de nós, humanos. Mas isso já começa a mudar.
É o que se conclui da aula magistral proferida por Jennifer Francis, professora da Universidade Rugters (New Jersey, EUA), na COP19 do Clima, da
ONU, no dia 18 de novembro de 2013, em Varsóvia, na Polônia. Nela a
cientista afirmou, com todas as letras, que a mudanças provocadas pelo
homem no clima (climate) tem um impacto claro sobre o tempo (weather).
A diminuição da quantidade de gelo no polo Norte responde por novos
padrões de furacões, chuvas e secas no Hemisfério Norte, diz. Nos
últimos sete anos, resume, quebraram-se basicamente todos os recordes de
extremos do tempo. Não é por acaso. O aquecimento é duas vezes maior no
Polo Norte do que em outras latitudes do hemisfério, mais ao sul,
segundo a professora Francis.
Nos últimos 30 anos, o aumento das temperaturas resultou
na diminuição da área coberta por gelo no Polo Norte em 50% e uma
queda, ainda maior, de 80% no volume de gelo no topo do mundo. A redução
do gelo no Polo Norte, explica Francis, tem um impacto forte na
trajetória e na velocidade do jet stream, o corredor de vento que nasce
entre o ar quente tropical e o ar frio polar nas regiões temperadas do
globo. Com menos gelo e temperaturas mais altas no Polo Norte, os ventos
do jet stream perdem fôlego e se tornam mais sinuosos, com uma trajetória mais verticalizada em sentido norte e sul (veja o gráfico no final deste post).
Não há dúvida, mostra a professora, de que essa transformação
nos corredores de vento muda o tempo, prolongando as secas nas
áreas presas ao sul do jet stream e tornando as áreas acima dela, ao
norte, mais vulneráveis a tempestades de duração maior. A má notícia é
que o aumento da temperatura no Polo Norte só tende a aumentar. Mas pelo
menos a ciência começa a entender melhor como o aquecimento global
provoca eventos climáticos extremos, inclusive nevascas. No
Hemisfério Sul a dinâmica é outra, segundo a professora Francis.
Abaixo, assista ao vídeo com uma versão anterior da sua palestra, em inglês:
Abaixo, a trajetória do jet stream no Polo Norte, quando os ventos perdem fôlego e se tornam mais sinuosos:
Foto: paul bica/Creative Commons
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