Quem é o soldado condenado por vazar segredos dos EUA
Atualizado em 30 de julho, 2013
O soldado americano Bradley Manning cantarolava uma
música de Lady Gaga enquanto baixava milhares de documentos
confidenciais dos servidores do Exército americano para o seu
computador, de acordo com um hacker que se tornou seu amigo.
Agora, o militar de 25 anos pode ser condenado a
uma vida na prisão, depois de dar início ao que já é considerado o
maior vazamento de arquivos secretos americanos.
Nesta terça-feira, em um tribunal militar, Manning foi condenado por
espionagem, mas inocentado da acusação de ajudar os inimigos dos Estados
Unidos ao divulgar mensagens diplomáticas e arquivos do Exército sobre a
guerra do Afeganistão.
Manning foi considerado culpado de 20 acusações no total, incluindo roubo e fraude de computador.
Ele admitiu ter vazado os documentos para a
organização WikiLeaks, mas disse que o fez para iniciar um debate sobre a
política externa americana.
A sentença deve ser anunciada na próxima quarta-feira.
Como analista de inteligência no Exército, Manning tinha acesso a uma grande quantidade de informações confidenciais.
No entanto, ele era de baixa graduação e tinha um salário relativamente baixo.
De acordo com seus amigos, ele tinha se frustrado com a carreira militar, que parecia estar estagnada.
'Figura engraçada'
Manning entrou para o Exército em 2007 depois de passar por diversos empregos mal pagos.
Ele foi criado em Crescent, uma pequena cidade
no Estado de Oklahoma, no centro sul do país. Seu pai, Brian, teria
passado cinco anos no Exército.
Mas os pais de Manning se divorciaram quando ele
era adolescente, e ele foi morar com sua mãe em Haverfordwest, no
sudoeste do País de Gales.
Relatos na mídia britânica e americana dizem que
sua adolescência foi difícil. Aparentemente, Manning tinha o
temperamento explosivo e era frequentemente provocado por ser nerd.
"Ele se chateava e atirava livros na mesa se as
pessoas não o escutassem ou entendessem seu ponto de vista", disse Chera
Moore, uma colega de classe em Oklahoma, ao jornal New York Times.
Outro amigo da escola de Manning no País de
Gales, James Kirkpatrick, disse à BBC que ele era "uma figura engraçada"
e obcecado por computadores.
Segundo outros relatos, o adolescente passou por momentos difíceis na Grã-Bretanha, quando sofria abusos verbais por ser gay.
Ao terminar a escola, Manning voltou aos Estados
Unidos e foi para o Exército. Amigos dizem que ele se alistou para
ajudar a pagar a universidade.
"Claro que o Exército (americano) tem muita
tecnologia e bom treinamento em computação, por isso entendo porque ele
se alistou, mas ninguém esperaria que ele o fizesse", disse Kirkpatrick.
'Sensação ruim'
Como parte do batalhão de suporte da 2ª Brigada
da 10ª Divisão da Estação de Operação de Contingência, Manning foi
enviado para o Iraque em outubro de 2009, mas mensagens que deixava no
Facebook mostram que ele não parecia estar feliz.
Em maio de 2009, ele escreveu no site que estava "para lá de frustrado com as pessoas e a sociedade como um todo".
Outras mensagens se seguiram, entre elas a que dizia: "Bradley Manning não é um equipamento".
Uma semana antes, ele tinha escrito: "Bradley
Manning agora está com a sensação ruim de que já não tem nada". Algumas
das atualizações parecem se referir ao fim de um namoro.
Semanas depois, no entanto, suas palavras
pareceriam proféticas, quando ele foi preso por investigadores militares
sob a suspeita de roubar informações secretas.
O hacker Adrian Lamo disse à mídia internacional
que Manning havia confessado ter roubado os dados durante conversas que
eles tiveram na internet.
"Ouvi e cantei (a música) Telephone, de Lady
Gaga, enquanto extraía o que é possivelmente o maior derramamento de
informações na história americana", teria escrito Manning, de acordo com
uma transcrição das mensagens publicada no site da revista americana Wired.
"Servidores fracos, login fraco, segurança
física fraca, contrainteligência fraca, análise de sinal desatenta...uma
combinação perfeita", afirmou.
Lamo disse que levou as mensagens às autoridades.
Papel do exército
No dia 5 de julho de 2010, Manning foi acusado de diversas infrações relacionadas ao roubo de informações secretas.
Ele também foi acusado de dar à organização
WikiLeaks um vídeo que mostrava um helicóptero militar Apache matando 12
civis em Bagdá em 2007.
O WikiLeaks liberou milhares de documentos relacionados à guerra com o Afeganistão para veículos de comunicação internacionais
O site também revelou mensagens confidenciais escritas por diplomatas
americanos e registros militares da guerra do Iraque, causando vergonha
ao governo americano.
Em março de 2011, o Exército fez mais 22
acusações extra sobre a possessão e distribuição não autorizada de mais
de 720 mil segredos diplomáticos e documentos militares.
O soldado não negou o vazamento das informações e
em fevereiro, se declarando culpado de 10 das acusações contra ele, mas
não da mais séria delas ─ ajudar o inimigo.
Ele disse ao tribunal que divulgou os documentos para acender um
debate público nos Estados Unidos sobre o papel do exército e sobre a
política externa americana.
Além das múltiplas acusações de espionagem,
Manning também foi considerado culpado de cinco acusações de roubo, duas
acusações de fraude de computador e múltiplas infrações militares. Ele
pode ser condenado ao máximo de 136 anos.
Um dos juízes militares admitiu que o tratamento
que o soldado teve na prisão foi duro e concordou em reduzir sua pena
em 112 dias, para compensá-lo.
Por causa da gravidade das acusações, Manning
manteve um advogado civil que já foi reservista do Exército, David
Coombs, que já participou de mais de 130 casos militares.
Um grupo de apoio ao soldado, The Bradley
Manning Support, disse à rede de TV americana CNN que pagou cerca de US$
150 mil (R$ 339 mil) pela defesa do soldado ─ a maioria conseguido com
pequenas doações.
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