Rússia passa a cobrar pré-pagamento de gás da Ucrânia
MOSCOU -
A partir de agora, a estatal russa Gazprom informou que só vai fornecer gás natural à Ucrânia se o país pagar previamente os contratos. A mudança configura uma ameaça de corte do suprimento que pode, inclusive, afetar consumidores europeus, e ilustra a incapacidade de as partes chegarem a um acordo em relação à dívida ucraniana.
Segundo a companhia, nenhuma das obrigações de Kiev foram quitadas até o momento, de um total de US$ 4,46 bilhões que o governo deve à Rússia. Hoje era o prazo final fixado pela Gazprom. “Agora a Ucrânia só vai receber pelo gás que pagar”, garantiu a estatal, em comunicado.
Como resposta, a Naftogaz, que é a empresa que recebe o gás natural da Rússia e distribui na Ucrânia, decidiu entrar com um processo de arbitragem em Estocolmo sobre a contraparte russa. A Gazprom acabou fazendo o mesmo contra a ucraniana.
O governo ucraniano já havia afirmado que não pagaria a dívida caso a Gazprom não barateasse o gás vendido e voltasse aos preços de mercado. Negociações mediadas pela União Europeia no fim de semana não foram suficientes para se chegar a um acordo — e autoridades locais culpam a Rússia.
“Espero que fatores econômicos e a razão sejam superiores às emoções e à política”, pediu Andriy Kobolev, presidente da estatal ucraniana. “Os ucranianos estavam prontos para cumprir suas obrigações sob a oferta que fizeram, mas os russos simplesmente não queriam no momento”, explicou a Comissão Europeia, em nota.
A alteração provavelmente reduzirá o volume de combustível comprado pelos ucranianos e também pode significar um corte no produto enviado à Europa, já que a maior parte passa pela Ucrânia. Analistas dizem que o efeito inicial será limitado, entretanto, por conta dos altos estoques no velho continente.
A Gazprom aumentou os preços que cobra da Naftogaz em cerca de 90% em abril, de US$ 268 por cada mil metros cúbicos para US$ 485,50. A ucraniana ofereceu quitar sua dívida e pagar o fornecimento em dia caso a cotação fosse de US$ 385.
A Ucrânia terá condições de manter sua oferta doméstica de gás natural e garantir o trânsito das exportações russas para a Europa por pelo menos “vários meses”, apesar da decisão de hoje de Moscou de cortar os embarques para a Ucrânia em meio a uma disputa de preços e por outros pontos do contrato, afirmaram autoridades do país.
“O lado ucraniano se preparou para essa eventualidade e garantiremos um trânsito confiável, bem como a oferta para os consumidores domésticos”, afirmou o ministro da Energia e Petróleo ucraniano, Yuriy Prodan, durante uma reunião do gabinete em Kiev, segundo a agência Interfax.
O CEO da estatal ucraniana de gás Naftogaz, Andriy Koboliv, afirmou durante a mesma reunião que “temos tempo para resolver esse assunto pelo menos até dezembro”. Os volumes em trânsito para os clientes europeus da Gazprom seguem fluindo normalmente, em 185 milhões de metros cúbicos ao dia, disse Koboliv.
Para o economista-chefe da BP PLC, Christof Ruehl, qualquer problema nas exportações russas de gás por meio da Ucrânia teria um efeito apenas limitado para os consumidores europeus. Outros consumidores teriam alternativas ou estoques para evitar qualquer problema, avaliou.
Em Moscou, o premiê russo, Dmitry Medvedev, afirmou que a posição ucraniana “cheira a chantagem”. Medvedev disse que não serão fechadas as portas para o diálogo, mas apenas após Kiev realizar o pagamento das contas atrasadas. O governo ucraniano exige renegociar os preços antes de saldar a dívida.
(Dow Jones Newswires)
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